Ia da ficção de fantasia total ao exercício de imaginar o futuro. De viagens no tempo como De Volta Para o Futuro ao metaverso – palavra na moda hoje – de Tron. Tinha ainda os distópicos, como Blade Runner e Terminator. Qualquer coisa vendida como futurista vendia, fosse filme, livro ou videogame.
Quando não vendia, ainda fazia barulho. O arcade Time Traveller, por exemplo, usava tecnologia de holograma quase impraticável em termos de custo – ao menos em larga escala (o que não era o caso). Foi algo que geral esbugalhou os olhos ao ver nas revistas. Aquilo cheirava a qualquer coisa saída de devaneios tecnológicos.
Os primeiros modelos de óculos 3D para consoles tiveram recepção entusiástica parecida. A verdade é que a maioria dos jogadores nem chegava a experimentá-los, mas eles exalavam tecnologia, aquela coisa do "o futuro chegou". O NES ganhou um modelo exclusivo no Japão em 1987 – que por motivos óbvios, mal vimos por esses lados. Eu mesmo nunca sequer vi um.

O Master System, pouco depois, teve seu SegaScope 3-D Glasses, aqui no Brasil conhecido simplesmente como Óculos 3D. Idealizado por Mark Cerny, então um dos principais nomes da Sega – e hoje um dos principais caras da S**y –, os óculos deram uma aura de produto do futuro ao console como poucos periféricos da época.
Lembre-se: estamos falando de 1989. Mesmo sem jogar, a gente olhava aquilo e parecia realmente que o futuro da ficção tinha virado realidade de repente.
A Tectoy colaborou, com uma propaganda na TV que mostrava um moleque jogando Missile Defense 3-D (jogo também de Cerny). Os mísseis pareciam sair da tela; veja no vídeo, a partir dos 20 segundos.
Na ingenuidade infantil, a gente não sacava que era só traquinagem de marketing. Jamais os óculos se aproximariam de tal realismo.
nfelizmente, o preço dos Óculos 3D não era tão acessível e muita gente não teve interesse ou não conseguiu comprá-lo. Meu caso: tive um Master System no começo dos anos 90, quando o Mega Drive já tinha sido lançado mas o 8-bit ainda tinha lançamentos. Com isso, consegui aproveitar bem a geração.
Ou não tão bem, já que nunca pude experimentar os óculos.
Alguns amigos diziam que não era tudo isso. Lembro de um claramente descrevendo a experiência como "uma
Como assim "ampliar a tela"? Não entendi bem, mas também não comprei um. Os anos se passaram. O Master caiu em desuso, vieram Mega Drive, Saturn... Virou antiguidade, acabei quase doando o meu no começo dos anos 2000 (vendi por um preço simbólico).
Cresci, virei adulto e o verme dos Óculos 3D ficaram mofando num canto da minha memória, deixando minha história com o Master System incompleta. Será que era bom? Era ruim?

Não que eu ligasse, em tal altura da vida. Se já era caro na época, hoje é que eu não pagaria 400 reais ou mais por uma peça de museu só para testá-la por dez minutos.
A oportunidade de enfim experimentar os óculos veio graças a um leitor, que fez a doação de um Master System com os Óculos 3D. Caso esteja lendo, obrigado de novo, Alan.
A primeira coisa que notei foi o quanto os Óculos 3D são pequenos. Ou eu sou cabeçudo (bem provável). É difícil encaixá-lo no rosto, chegando a forçar um trincado no meio da armação – já veio assim e ao que parece, acontece com frequência porque foi projetado para cabeças de crianças. Mas não afetou o funcionamento.
Foi um ponto que achei negativo. Não há qualquer forma de ajustar a armação. Ou cabe na sua cabeça ou não cabe, fim. Se você for, digamos... "privilegiado em cabeça" e forçar muito, há sério risco de arrebentar o plástico. Ao menos é um material bem resistente e um tanto flexível.

Com mais de 30 anos nas costas, o modelo continua bonito. O design ainda parece "futurista" e descolado, e faz ainda mais sentido lembrar o impacto dele no começo dos anos 90. O design é bonito, com a superfície impecavelmente brilhante e polida.
De alguma forma, caiu bem com aquele padrão característico das embalagens do Master System, um quadriculado cinza sobre fundo branco.

Óculos na cara e o clássico Missile Defense 3D rodando. Nada. A única mudança é que a imagem tremulando na tela fica estática através dos óculos. Nenhuma sensação de tridimensionalidade.
Os óculos do Master System funcionam pelo sistema de "cortina" ou shutter. Embora pareçam apenas uma lente, cada visor é como um pequeno display de cristal líquido, que pisca em sincronia com a tela. É perceptível imediatamente ao colocar os óculos: a imagem parece estar piscando muito depressa.
Para ter certeza de que não era defeito nos óculos, pedi a outras duas pessoas que o experimentassem. Elas atestaram que certos elementos visuais pareciam "fora da tela", ou seja, levemente projetados à frente dela – aí sim, o esperado 3D.

Ou quase. Nada de muito impressionante e nem de longe parecido com a propaganda antiga. Só um pouco de volume em alguns elementos.
Trinta anos de ilusão
Como curiosidade ou item de coleção, talvez. Mas note que apenas oito jogos compatíveis foram lançados. Se o tivesse experimentado na época, eu jamais recomendaria os óculos do Master System. Era um truque até interessante e boa jogada para o marketing. E só.
De qualquer forma, valeu para matar a curiosidade. Agora sinto que minha saga com o "velho mestre" está completa. Não que estivesse perdendo grande coisa.
Fonte: Memoria Bit