Pefpa escreveu:Acho que o convívio social acaba podando a personalidade das pessoas. Um dos momentos da minha vida em que eu mais amadureci foi no meu segundo grau, quando eu não falava com meus colegas ou professores. Em casa também não era muito diferente, a relação com minha família era burocrática. Nesse momento eu passei a observar a vida "de fora", de um jeito mais analítico. Em casa também não era muito diferente, a relação com minha família era burocrática. Claro que também foi um dos momentos mais tristes da minha vida, mas se eu não tivesse passado por isso eu provavelmente seria um cara mais bocó. Mas é como você disse, eu me afastei das pessoas e acabei me tornando um estranho pra minha família, afinal, eu mudei muito nesse meio-tempo. Ironicamente, eu posso dizer que conheço minha família muito melhor hoje - o que facilita uma retomada.
Well, seu caso é semelhante ao meu. Exatamente enxergar as situações
estando do lado de fora. Sem dúvidas me afastei bastante da família, porém - no meu caso em particular, foi uma coisa boa, pois eles não passam um bando de idiotas. É triste falar isso da própria família, mas infelizmente a verdade é essa. Não tenho ódio por nenhum deles, um pouco de pena talvez, pois eles meio que
vivem num campo florido. Gente otimista é cega pra realidade. Nem sequer tento conversar com nenhum deles mais, é pura perda de tempo, se tentar falar dos meus problemas serei taxado de imbecil ou algo do tipo. São ignorantes demais.
Talvez minha vida seja essa tragédia por não ter crescido como uma pessoal 'normal'. O que seria normal? Oras, acredito que seja o padrão de tradicionalismo da sociedade: ter um pai e uma mãe em casa, ter acesso à coisas que você quer/gosta, ter amigos na escola, etc. Mas a minha vida não foi assim, foi um completo desastre. Entretanto, conscientemente eu não tenho grandes reclamações quanto a isso, talvez indiretamente tenha afetado, de alguma maneira. Apesar de não ter muito a dizer sobre o meu pai, posso afirmar que ele destruiu seu próprio casamento. Ele era daquele tipo que queria levar uma vida de solteiro mesmo estando casado. Ele
todos os dias saía pra beber com amigos, e voltava
sempre de madrugada pra casa, lá para às 3:00 da manhã. Assim, todo santo dia minha mãe brigava com ele, eles discutiam bastante no meio da noite... Mas como ele era um cara pacífico, simplesmente pegava sua moto e ia embora de novo. Nem sempre dormia em casa, por conta disso. Sempre que chegava era bêbado, só que nunca agrediu ninguém, nem mesmo verbalmente, ele ficava quieto e saía. Qual o problema nesse caso? Não eram as brigas, era apenas a falta que fazia o pai dentro da casa durante a noite.
Ele fazia isso pois não era empregado, ele tinha uma loja que vendia e instalava antenas parabólicas, que na época eram uma grande febre (fim dos anos 80 e começo dos 90). Ou seja, não tinha horário pra trabalhar, já que era o dono. Nunca vi ele acordar antes do meio-dia (isso quando dormia em casa). Minha mãe era professora de química/física/biologia, seguia à risca horários, não podia faltar nem se atrasar, completamente o inverso dele.
A convivência era extremamente conturbada, não era uma família normal, e já era de se esperar que uma hora tudo iria desabar. E assim aconteceu, eles se separaram quando eu tinha cerca de 10 anos de idade. Pra mim foi tão natural que não senti nada, talvez alívio. Mas, como nasci pra viver em um constante inferno (desde sempre, e é provável que só termine quando eu morrer), logo após a separação, minha mãe teve uma
grave esquizofrenia. Ela simplesmente acabou, era do nível de se colocar num hospício (e admiro não terem feito isso na época). Restou para os pais dela, meus avós, resolver esse problema. Mas, como havia dito, eles são um bando de ignorantes e idiotas - fazendo então da forma mais idiota possível, que por sinal não adiantou nada. Eles eram religiosos, só que daqueles ricos que não dão um centavo à igreja (deixando claro que não tenho nada contra nenhuma religião, apenas não acredito), então foram buscar auxílio na religião. Alguém aqui já assitiu
O Exorcista? Digamos que uma versão mais
light desse filme ocorria semanalmente por aqui. É óbvio que não adiantou nada.
Como eu era pequeno, tive que viver com minha avó. Só que, diferentemente da figura de
avó que todos conhecem, ela era o verdadeiro demônio em pessoa. Se existe um inferno, é pra lá que ela vai. Ela é uma pessoa imbecil, ignorante, egoísta, invejosa e mesquinha. Aliás, ela é muito mais do que isso, poderia virar a noite aqui digitando adjetivos desagradáveis, e ainda assim não seria o suficiente. É daquelas que no dia que morrer,
ninguém vai derramar uma lágrima. Bom, talvez de felicidade, quem sabe. Nem queiram saber o que passei, nem comentarei pois não gosto de lembrar disso. Já o meu avô era o contrário dela, ele é uma pessoa boa, generosa e que quer o bem dos outros, sem dúvidas uma pessoa única. Só que foi contaminado pela idiotice do mundo, e é cego em sua crença religiosa, embora não vá à igreja.
Essa insanidade durou literalmente
anos, considerava a pior época da minha vida, até chegar a conclusão que a época posterior é sempre pior. O meu dia de hoje é pior que o de ontem, e o dia de amanhã será pior que o de hoje. Mas anyway... Até que aceitaram a realidade e a levaram a um psiquiatra. De forma gradual a coisa se resolveu à base de medicamentos de tarja-preta e incontáveis consultas. Hoje ela é uma pessoa normal, mas infelizmente é como
eles. Não a culpo, era de se esperar. Mesmo assim, é melhor do que antes (pra ela).
Acho meio cômico perguntar para mim mesmo todos os dias: o que estou fazendo aqui ainda? Isso não vai mudar nunca mesmo. E não acredito que eu vá conseguir continuar levando essa tranqueira por muitos anos. Com toda minha descrença, ainda me vejo questionando:
"Ó, Deus, por que não me fizeste idiota como eles...?"