Era julho de 1991 quando a saudosa revista videogame chegou às bancas com uma edição repleta de novidades sobre o Master System, Nintendinho, Game Boy e Mega Drive, as novas paixões dos jogadores brasileiros.
Com Bart Simpson na capa celebrando a chegada do game Simpsons: Bart Vs Space Mutants, a edição #04 da revista trazia, como dizia a chamada, “mais de 58 novos jogos sensacionais”, entre eles: Super Mario Bros 3, Castlevania Adventures, Wonder Boy, Mickey Mouse: Castle of Illusion, Strider, entre outros.
Entre dicas, códigos, cartas dos leitores, análises, detonados e até uma parte só para trocas e rolos, a quarta edição da revista Videogame trazia algumas notícias interessantes na secção bits, dedicada às novidades no mundo dos videogames. Logo na abertura da página nº 7, éramos apresentados a Power Glove, acessório para Nintendinho e seus clones que prometia “mais agilidade, movimentos precisos e golpes decisivos, (…) além de melhorar sensivelmente o desempenho do jogador”.
Dando continuidade as novidades, a Videogame também noticiou a chegada de novos cartuchos licenciados pela Milmar para os sistemas Ni***ndo Americano de 72 pinos. Entre eles, estava o jogo Futebol, com times brasileiros e tudo. Logo em seguida, os leitores puderam admirar toda a beleza da nova loja da Progames, localizada na zona leste, no bairro do Tatuapé, em São Paulo, O visual da loja era incrível, e já contava com mais de 300 jogos (o Ivan Battesini não brincava naquela época).
Mesmo com tantas novidades interessantes para os gamers da época, nada naquela revista chocava mais do que a seguinte manchete, vista em destaque no final da página número oito:
Pois é, veiarada, estavam querendo acabar de vez com o nosso eficaz modo de fazer os cartuchos voltarem a funcionar através da mistura de ar e saliva. A notícia começava assim: “Um kit específico para limpeza de conectores de cartuchos e consoles de videogame está sendo lançado pela Engecomp Engenharia de Computadores”. Assoprar cartuchos pelo jeito, nunca mais.
Como bem sabemos, utilizávamos o sopro na esperança de limpar os conectores e, dessa forma, fazer o cartucho funcionar melhor. Alguns especialistas já afirmaram que a técnica não era nada eficiente, e que na verdade estávamos estragando o jogo, pois a umidade da saliva podia danificar os contatos. Contudo, é inegável o fato de que eram raros os jogos que não voltavam a funcionar depois de umas boas assopradas.
O responsável por o possível fim da técnica do “assoprão” era o kit Game’s Cleaner. Segundo a matéria da Videogame, o kit “é composto por dois bastões com hastes flexíveis, revestidos na ponta por espuma de alta resistência mecânica, e por uma bisnaga de líquido anti-estático para limpeza.”
A promessa era de resultado imediato através de um sistema de fácil manuseio e de extrema eficiência, como dizia na segunda metade da matéria: “basta pingar algumas gotas do líquido na ponta do bastão e esfregar vigorosamente os conectores do cartucho e console”. Com um pouco de força e um tanto de habilidade, o cartucho estava pronto para o jogo.
Ah, e não precisava se preocupar em aplicar o produto muitas vezes, pois “segundo o fabricante, a espuma não solta fiapos e o líquido anti-estático evita o aparecimento de eletricidade estática pela fricção, que acabaria atraindo mais poeira para os contatos”.
O Game’s Cleaner parecia promissor, mas nem de longe possuía a mesma praticidade de um “assoprão”. Se o jogo não funcionasse, bastava retirá-lo do console e mandar ver no assopro. Enquanto que com o kit de limpeza, você tinha que tirar o jogo, abrir o kit, limpar o conectores, esperar secar e torcer para funcionar (caso contrário, teria que fazer todo o processo novamente).
Já pensou ter que usar esse kit em uma locadora? Seria completamente inviável. A molecada trocando de jogo a cada 10 minutos e o dono do lugar precisando passar o Game’s Cleaner toda vez que um game teimasse em não funcionar. Isso sem falar no preço de um produto assim.
Com tudo isso, não foi dessa vez que o bom e velho assopro no cartucho foi extinto das práticas gamers. Mesmo hoje, com uma infinidade de “especialistas” dizendo que a prática é ineficaz, não ousamos usar outro método que não seja o assopro para fazer os nossos velhos cartuchos funcionarem. Mas, se você quiser arriscar, a Videogame deixou o contato da loja na matéria: “O Game’s Cleaner pode ser encontrado na Framsol: rua Barão de Tatuí, nº 109, 11º andar, sala 112, São Paulo/SP. O telefone é (011) 67 0054”.
Agora é torcer para eles ainda estarem lá, mesmo depois de quase 25 anos. Caso contrário, continue assoprando os seus cartuchos, o Jogo Véio recomenda.
Fonte: Jogo Véio