Psycho Fox
Eu adoro esse final - principalmente a parte da câmera nos créditos - desde moleque.
Existem alguns jogos que são a cara de seus consoles, cartões de visita mesmo. É o caso de
Psycho Fox com o Master System: se você estava lá nos primeiros tempos do console, certamente teve contato com ele e pôde ver de cara o que o console era capaz - e certamente não sairia decepcionado. Por mais que o jogo tenha alguns detratores - nosso amigo Vectorman tem horror dele por conta de um ponto justíssimo do qual falaremos mais tarde - este rapaz aqui se firma como um dos jogos mais clássicos do oito-bits da Sega.
Psycho Fox faz parte de uma trilogia (ou melhor, tetralogia) não-oficial de jogos feitos pela produtora Vic Tokai para diferentes consoles, os outros sendo
Kid Kool para o NES e
Magical Hat no Buttobi Tabo! Daiboken para o Mega, transformado em
Decapattack no ocidente. Tematicamente, os jogos não tem nada de comum entre si, mas em termos de jogabilidade são idênticos; é impossível não jogar cinco minutos de um sem lembrar de um dos outros que já se conheça. Por conta da localização e da nova estética de terror adotada em
Decappatack, ele perde um pouco do colorido e dos detalhes característicos (abundantes em
Magical Hat) da "série", mas ainda assim não fica tão diferente a ponto das semelhanças não serem reconhecíveis. Curiosamente,
PF foi o único dessa suposta franquia a não ser lançado no Japão, mesmo sendo o que tem a maior ligação cultural com as lendas de lá, muito provavelmente pelo fato do Master já estar sendo descontinuado por aqueles cantos pelos idos de 1989. Apesar disso, temos o jogo em formato Mark III na Coreia do Sul, essa terra que só perde para o Brasil em termos de cartuchos nacionalizados sensacionais,
onde ganhou uma capa bem curiosa...
A história pega carona no folclore japonês. Uma raposa malvada chamada Madfox Daimyojin assume o controle de um templo da divindade Inari (ligada à fertilidade/agricultura) e usa esse poder para dominar o mundo. Cabe a uma das raposas mais jovens do templo, Psycho Fox, derrotá-la e acabar com seu reino de terror. Assim como nas lendas a respeito desse tipo de animal, a simpática raposinha tem o poder de mudar de forma e se transformar em outros animais para conseguir ultrapassar alguns obstáculos das fases. Além desse poder e de seus socos, ela também conta a com a ajuda de um pássaro chamado Birdfly que, caso seja encontrado em um dos vários ovos espalhados pelos estágios, pode ser usado como arma de arremesso, voltando após algum tempo para a raposa. Temos sete mundos diferentes, cada um com três estágios e um chefe ao final de cada parte que não pode ser derrotado por socos ou Birdfly, mas sim através de alguma engenhoca que precisa ser atingida no momento certo para então fazer dano ao inimigo. Você também recolhe itens nos supracitados ovos que habilitam a troca de forma, garantem invencibilidade e destroem os inimigos da tela, bem como sacos de dinheiro que são usados para um minigame entre as fases.
A mecânica principal do jogo é a troca de personagens, feita através do uso de um item encontrado com abundância nas fases. Além da forma principal de raposa, Fox pode ser tornar um macaco (mais lento, mas que pula verticalmente mais alto), um tigre (rápido e que pula bem em distâncias, mas mais difícil de controlar) e um hipopótamo (lento igual fila de banco, mas que consegue destruir blocos de pedra e liberar passagens). Essas transformações permanecem caso se perca uma vida, sendo necessário usar outro item para se voltar à forma de raposa ou mesmo assumir outra. As mudanças quebram um galho danado para se alcançar determinadas plataformas ou encontrar itens, naquela lógica meio
Sonic de Mega Drive na qual sempre é interessante ir pelo caminho superior das fases. Nas primeiras vezes em que joguei
PF, eu achava que a transformação em tigre em determinados pontos era obrigatória para pular algumas parte de água, mas um dia alguém me chamou a atenção para o fato de que, se você for correndo sem pular sobre as lagoas, você dá algumas quicadas sobre as mesmas - como se você estivesse jogando uma pedra sobre a superfície da água. Não é sempre confiável pelo limite da técnica, mas é possível passar pelas mesmas de toda forma. Assim, dá para se passar o jogo todo como Fox sem precisar transformar-se, embora não seja má ideia virar tigre vez ou outra ou mesmo permanecer nessa nova forma todo o tempo.
Visualmente,
Psycho Fox é lindo. Os gráficos são bem-feitos, os personagens tem designs e detalhes interessantes, tudo é muito colorido e agradável aos olhos. Quando conheci
Keith Courage in Alpha Zones, me recordo de ter gostado dele por me lembrar um pouco deste aqui, vejam só que coisa. Eu considero a trilha do jogo uma das memoráveis do console também. Em termos de jogabilidade é que o título ganha detratores, por conta da sua física peculiar - o tal fato que tanto irrita o Veco, por exemplo. Aprender a movimentar os personagens exige certo molejo, dada a inércia... Você precisa pegar algum impulso para se deslocar com mais velocidade, o que nem é tão traumático em terra (muito melhor do que em
Kid Kool, por exemplo) mas nas horas dos pulos pode ser muito chato. Alguns deslocamentos entre plataformas, simples em outros jogos, aqui precisam de uma "corridinha" curta para dar certo - senão a raposa faz uma parábola curta direto para o abismo. Leva algum tempo para acostumar, mas é algo que com o tempo se aprende. Tem uma sequência de canos e espinhos na quinta fase que era o meu suplício para passar quando criança, justamente porque exigia um pulo desses que a minha lógica como jogador dizia ser de um jeito mas o jogo exigia outro. Curiosamente, perdi algumas vidas no mesmo ponto nessa jogada...
Vencida a física do jogo, não restam muitos desafios -
Psycho Fox é um desses títulos tranquilos de se terminar, coisa que dá para se fazer em umas duas horas quando se pega o jeito. As fases tem muitos elementos repetidos, quase ao ponto de incomodar aqui e ali, os inimigos são meio previsíveis depois de algum tempo e os chefes são moles assim que se entende como podem ser atingidos, bem como temos continues à vontade. Os itens especiais nem precisam ser tocados, como disse acima até mesmo dá para se chegar ao final sem ao menos se transformar. Vidas extras também são encontradas aqui e ali, com um pouco de sorte dá para se ganhar 20(!) delas na fase de bônus. O jogo também conta com warps que matariam o Mario de inveja: na primeiríssima fase, dá para se encontrar um em menos de um minuto que leva até a fase 7-1! Um jogador experiente consegue zerar o jogo em menos de cinco minutos com facilidade assim.
Para mim, é um dos jogos obrigatórios do console e o Fox sempre vai ser um dos mascotes não-oficiais da plataforma