Entrevista com André Elias o criador do Elifoot.

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Sonymaster
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Entrevista com André Elias o criador do Elifoot.

Mensagem por Sonymaster »

O mundo dos videojogos ainda vivia a sua infância e em Portugal já se sonhava com coisas maiores. Antes do fenómeno Championship Manager, o designer informático André Elias criou Elifoot, o primeiro grande jogo para aspirantes a treinadores. Vinte e cinco anos depois o pai dos managers modernos ainda está bem vivo.

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A simplicidade da programação dos anos oitenta pode parecer um enigma para a juventude de hoje. Mas quem viveu os primórdios da era inicial da programação para a indústria do entretenimento sabe bem o valor que chegou a ter no mercado um jogo de traços e linhas. Dentro da simulação de estratégia desportiva as diferenças também são abismais. Hoje existem bases de dados que profissionais utilizam para desenvolver o seu trabalho. Há mais de vinte e cinco anos nada podia ser mais complexo do que alcançar o básico, um onze titular e três suplentes com nomes verdadeiros, apelidos no sitio e a posição habitual em campo respeitada. Mais parecia ser impossível.

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Foi nesse contexto de programação que se desenvolveram vários videojogos dedicados ao futebol. A esmagadora maioria implicavam ao jogador tomar parte da acção, transformar-se num dos heróis dos relvados. Ainda poucos sonhavam com o impacto que podia ter uma decisão tão simples como alterar o eixo de protagonismo do relvado para o banco. Do jogador para o treinador.

Em 1987 o programador André Elias avançou com esse passo arriscado.

Criar um jogo orientado para o papel de técnico, onde o importante eram os conceitos de liderança. As escolhas do plantel, das tácticas e das missões em campo mais do que as fintas, os remates certeiros e as defesas impossíveis.

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Desse passo destemido saiu Elifoot (o nome, não é difícil adivinhar, vem do seu apelido), um jogo que entrou rapidamente na cultura dos videojogos da época. Pela sua simplicidade e pelo atractivo da novidade. Sobretudo porque dava aos consumidores habituais de videojogos um desafio. Lidar com algo novo.

O designer informático português, nascido em 1969, era ainda quase um adolescente quando o seu primeiro rascunho do que viria a ser o Elifoot ganhou vida.

Mais de duas décadas depois é o líder de uma plataforma que ultrapassou fronteiras, conquistou o mercado brasileiro, entrou em cheio no mundo das apps e continua a ser um caso de sucesso multigeracional. Um idolo para os que cresceram com a sua criação mas também com os mais novos. “Pai, tu conheces o criador do Elifoot?” foi a frase de espanto que um filho de dez anos de um amigo seu lhe disse quando soube que o mítico André Elias era, afinal, um amigo de família.

Entrevista a André Elias

Confissões de um homem que esteve à frente do seu tempo ao @FutebolMagazine.

O que leva um adolescente, em plena década de oitenta, em Portugal, a mergulhar na concepção de um jogo de futebol distinto do cânone da época e orientado para a gestão desportiva?

Nos anos 80, com a génese dos computadores acessíveis a todos, a programação desenvolveu-se, tornou-se um hobby e um desafio. Tendo-me iniciado no BASIC, linguagem por excelência para principiantes, e após ter desenvolvido alguns programas e feito alguma simulação desportiva, apenas por divertimento, decidi lançar-me a um desafio mais arrojado e criar um jogo para eu próprio jogar. A primeira versão jogável para o ZX Spectrum, surgiu em 1987. Os amigos gostaram, popularizou-se e tornou-se um clássico.

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O Elifoot é mais antigo que a saga Championship Manager que popularizou o modelo a nível internacional. Sente um orgulho especial em ter sido parte fundamental dos pioneiros deste modelo?


O Elifoot é o primeiro jogo no género Manager para multi-jogador, e o primeiro em que se visualiza a evolução de todos os resultados em simultâneo. É frequente ver o Elifoot classificado de “Pai dos Managers”. Foi um jogo pioneiro, e é uma grande satisfação tê-lo produzido na época.

Um dos grandes trunfos que o Elifoot sempre teve foi a sua simplicidade. É um jogo que foge da complexidade das bases de dados mastodônticas e oferece ao jogador um modelo rápido, eficaz e directo. Consequência das circunstâncias ou modelo base?


A simplicidade do Elifoot classifica o jogo num segmento diferente dos jogos complexos. Numa equipa que ganha, não se mexe.

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Existem versões inspiradas directamente no Elifoot tanto no Brasil como em Espanha. Como se deu esse alargamento geográfico de um produto que é na sua essência 100% português?

O Elifoot tem jogadores identificados em mais de 50 países, nas suas várias plataformas disponíveis. O lançamento de um jogo em português permitiu no passado marcar o jogo como uma referência no mundo lusófono. A disponibilização do Elifoot em inglês, espanhol e português do Brasil alargou as fronteiras e adaptou a mensagem à linguagem dos jogadores.

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A competitividade entre o Elifoot e o Brasfoot, o modelo que copia a essência do Eli a partir de 2003, tem servido para cimentar a posição do Elifoot ou é uma ameaça ao seu lugar dentro dos jogos de manager mais utilizados no mercado brasileiro?

No Brasil podem encontrar com facilidade referência ao Elifoot como o Pai dos Managers e outros jogos que se descrevem como no género do Elifoot. Independentemente de qualquer outro jogo, todos jogaram Elifoot na sua infância ou juventude. É altamente respeitado!

O universo das Apps significou uma revitalização destes jogos que durante anos pareciam ter sido superados pelos modelos mais atraentes, graficamente, e mais complexos, na base de dados. É uma boa etapa para estar à frente de projectos como o Elifoot?

A reacção dos jogadores foi excelente com o desenvolvimento das versões Mobile para iPhone, iPad, tablets e smartphones. Foi sem dúvida uma aposta ganha. Atingiu o primeiro lugar no top em Portugal, Brasil e esteve nos primeiros lugares em outros países, como o Uruguai.

Houve algo que sempre quisesse ter feito com o Elifoot e que por problemas de ordem tecnológica ou financeira tivesse sido forçado a deixar na gaveta até hoje?

Problemas desse género, nunca me afectaram, nem a mim nem ao desenvolvimento do Elifoot.

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Para terminar, os que cresceram com o Elifoot em Spectrum e PC sabem bem o viciante que o jogo pode ser. Para as novas gerações, que estão mais habituados a outros tipos de jogos, qual é a vossa mensagem para entrarem no universo Eli?

É incrível como as novas gerações recebem hoje o Elifoot como um clássico e uma referência. Há bem pouco tempo, um jovem de 10 anos, filho de um amigo meu, quando soube que o pai me conhecia perguntou-lhe com o maior dos espantos: “Pai, tu conheces o criador do Elifoot?


Elifoot era um modelo de jogo bastante simples. Continua a sê-lo.

No meio de videojogos que obrigam os treinadores virtuais quase a preocupar-se com a dieta alimentar de jogadores que não são mais do que códigos binários, o modelo de máxima simplicidade que em 1987 começou a conquistar jogadores em todo o mundo e que atingiu o expoente máximo na década de noventa continua vivo. A plataforma é diferente, a ideia permanece a mesma. E ninguém tem dúvidas da paternidade do Elifoot. Sem ele talvez se tivessem inventado na mesma muitos jogos de managers. Mas a experiência teria sido muito menos divertida!

Fonte: Futebol Magazine
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