Eu sou um cara preconceituoso demais para algumas coisas.
Uma delas é para com mudanças nas franquias das quais eu gosto. Por isso, eu fiquei com um pé atrás quando o George Lucas vendeu a LucasArts para a Disney - muito porque uma das primeiras grandes decisões, fora fazer novos filmes, foi aposentar o setor de jogos da empresa. Veio
O Despertar da Força , que eu aguardei e gostei demais, mas eu ainda estava receoso com o novo "universo expandido" de
Guerra nas Estrelas (sim, eu vou chamar assim até a morte), que ignorava solenemente tudo o que não foi filme e desenho animado nas últimas quatro décadas. Para quem cresceu lendo os livros lançados por aqui da editora Best Seller, principalmente a sensacional Trilogia Thrawn (
Herdeiros do Império, O Despertar da Força Negra e
A Última Ordem), rolou lá certa má-vontade mesmo com o que de novo aparecia por aí.
Corta para o final do ano passado, quando saí com um sorrisão do rosto da sessão de
Rogue One, um filme que o meu supracitado preconceito fanboyolístico dizia não ser exatamente necessário e que acabou me surpreendendo demais em sua proposta. Disposto a dar uma chance para o que de novo havia, resolvi que quando pudesse ia pegar tanto o desenho mais recente da franquia,
Rebels (que guarda um monte de conexões com
Rogue One) e também alguns dos novos livros lançados.
No caso de
Rebels, eu tinha visto alguns designs dos personagens e não gostara muito, mas foi só começar a assistir e fui fisgado pela proposta da coisa, a ponto de já ter virado fã e comprado uns bonecos da série
Já com os livros, depois de um longo hiato de narrativas graças a uma literal dúzia de obras técnicas lidas nos últimos meses, resolvi começar pelo primeiro volume da trilogia
Aftermath (
Marcas da Guerra, por aqui, lançado pela Aleph) e gostei pra caramba.
A história se passa pouco depois de
O Retorno de Jedi, mostrando que o Império não deixou simplesmente de existir com a queda (hehehehe) de Palpatine, conforme a trama de
O Despertar da Força dá a entender. Além da ex-Aliança Rebelde, agora Nova República, tentando juntar os cacos de uma galáxia despedaçada pelos anos de opressão, temos também células diversas do antigo Império tentando fazer se reagrupar - ou algo muito próximo disso, visto que só concordam em discordar e pular no pescoço um dos outros para ver quem vai mandar na bagaça toda agora. A narrativa é toda fragmentada, alternando capítulos entre os representantes do que sobrou do Império e também diversos outros personagens opostos a eles, cujos destinos tenderão a se encontrar na trama em prol de um objetivo comum - algo na linha
RO, mas numa escala menor mas não menos importante. A maioria dos personagens é nova, embora vejamos nomes conhecidos como Wedge Antilles e o Almirante Ackbar no meio da ação. Alguns interlúdios não-relacionados diretamente com a trama principal mostram também como estão outros rostos mais conhecidos da franquia, como certo contrabandista e seu co-piloto, além de umas menções interessantes a coisas como uma armadura mandaloriana meio castigada e um sabre de luz vermelho...
O autor Chuck Wendig, que me era desconhecido, tem uma pegada interessante e que te cativa na leitura sem depender de artifícios baratos, não sei por que - talvez pela estrutura quebrada de personagens - me lembrou um pouco o George R.R. Martin. Como toda boa alegoria que a franquia nunca deixou de ser, tem algumas mensagens interessantes aqui e ali a respeito tanto do tema central da opressão e consequências dela quanto também de coisas
en passant mas não menos importantes, como a naturalidade na qual lida com personagens homossexuais, por exemplo. Esteja você em qualquer uma das pontas do espectro de entusiastas de
Guerra nas Estrelas, de quem descobriu a coisa toda recentemente ou esteja nessa vida há mais tempo, é uma leitura que recomendo bastante. Em breve, vou atrás dos outros volumes