Ontem à noite, depois de semanas, finalmente zerei
Última IV para o Master System. Tenho sentimentos mistos a respeito desse jogo.
(Sim, o jogo é todo naquele inglês medieval cheio "thou", "dost", "hast" e etc)
É um jogo completamente diferente de todos os RPGs que eu já havia jogado. Ele é totalmente não linear e o jogo não te guia em momento algum, tudo parece ser um tanto aleatório embora provavelmente para cada coisa sem sentido exista alguma sequencia de personagens a se falar pelo mundo para conseguir alguma pista. Não por acaso, vi na internet casos de pessoas comentando que "terminaram o jogo depois de anos". Como eu não disponho desse tempo (até mesmo porque joguei com um medo danado da bateria do cartucho acabar e apagar o meu save), infelizmente tive que fazer algo que eu não gosto: olhar um guia na internet em alguns momentos. Por exemplo, existem itens (obrigatórios) que para encontrar você precisa ficar em um ponto exato do mapa e dar um comando "search" quando as duas luas que existem nesse mundo estiverem em uma determinada combinação de fases. Provavelmente exista algum NPC em alguma parte do jogo que diga algo do tipo "os dignos de tal item estarão nas montanhas do norte quando chegar a completa escuridão" indicando que é pra procurar nas duas luas novas em algum ponto perto de tal montanha, mas vsf ter que achar o cara que fala uma coisa assim, que pode estar em qualquer lugar, e ainda ter que "decifrar" a dica. As magias são outra coisa que só mesmo com um guia: seu personagem não aprende magias, ele tem que criar misturando ingredientes, só que o jogo não diz as receitas (na verdade a versão americana do jogo vinha com um mapa que tinha no verso a receita de
algumas magias, não todas, mas a Tec Toy não colocou esse mapa na versão nacional...). Pra completar, dentro das dungeons tem várias passagens secretas que obrigatoriamente precisam ser acessadas para completar o desafio e que a única forma de descobrir sem uma fonte externa é ficar trombando em todas as partes das paredes, aleatoriamente, até achar.
Fora essa questão de detalhes quase impossíveis de descobrir, o jogo tem uma premissa interessante. Para terminá-lo, seu personagem tem que "evoluir espiritualmente" e se tornar um "ser elevado" em 8 virtudes (honestidade, compaixão, valor, justiça, sacrifício, honra, espiritualidade e humildade). Cada virtude dessas tem um contador interno (que não é acessível normalmente em qualquer menu do jogo) que muda de acordo com as suas ações, e você precisa chegar aos 99 pontos em cada uma delas. A cada inimigo derrotado, seu valor aumenta. Caso fuja de alguma luta, diminui. Existem mendigos nas cidades que se você doar algumas moedas, aumenta a sua compaixão, mas se atacar inimigos que não atacaram você, ela diminui. Nas cidades existem centros médicos para recuperar a sua energia ou ressuscitar aliados. Nesses centros, o atendente pergunta se você doaria sangue aos necessitados (o que diminui o seu HP), aceitando aumenta a sua virtude de sacrifício, negando ela diminui. E assim vai. Como pode ser visto, você não trabalha uma virtude por vez, elas vão se desenvolvendo com suas ações no jogo.
Quando o seu contador secreto de alguma virtude alcança o valor máximo de 99, o vidente do castelo diz que você é digno e que deve buscar a elevação. Só que não é tão simples, cada virtude tem um templo escondido em algum lugar do mapa (mais uma vez, alguns NPCs dão vagas dicas da localização) e é lá que você deve ir para meditar. Mesmo que encontre o templo, não pode entrar se não encontrar a chave que, surpresa, está escondida em algum outro ponto do mapa. Mesmo que tenha a chave e consiga entrar no templo, você precisa saber o mantra desta virtude para poder meditar, e esse mantra é ensinado também por algum NPC escondido em algum lugar. Se finalmente conseguir meditar usando o mantra, parabéns, você alcança a elevação naquela virtude. Mas cuidado: realizar qualquer ação que diminua o contador dessa virtude faz você perder a elevação e ter que fazer tudo de novo.
Basta alcançar a elevação total (nas oito virtudes), encontrar oito pedras escondidas em dungeons e pronto, já pode terminar o jogo. Toda essa combinação libera o acesso ao último calabouço onde depois de passar por 8 andares cheios de inimigos você precisa responder a um questionário com perguntas sobre as suas virtudes. Se responder corretamente, parabéns.
Essa versão de Master System é um port do jogo original lançado para o MS-DOS, e bizarramente quiseram manter o jogo fiel até demais ao original: o tempo todo parte da sua tela é ocupada por um "prompt" onde o jogo digita as ações correspondentes ao movimento do seu personagem e escolhas que faz o menu. No começo é meio estranho mas depois acaba acostumando.
Uma coisa que me incomodou demais foi andar pelas dungeons. O jogo é um RPG em turnos, e a cada turno você dá um comando para um dos personagens do grupo, que pode ser um ataque ou UM passo em alguma direção. Mesmo após derrotar todos os inimigos de uma sala, para sair dela tem que dar um passo de cada vez com cada personagem em direção à saída. Em salas sinuosas ou com obstáculos, andar para fora delas é pior do que a própria luta.
Enfim, um jogo bem diferente, foi a primeira e provavelmente a
última (com o perdão do trocadilho) vez que jogo alguma coisa dessa série, mas o jogo não é ruim. No começo é difícil se acostumar mais aos poucos ele vai te dando aquela vontade de chegar ao fim que não de deixa abandonar.