Action Fighter
Não, senhor presidente, não curti mesmo.
Placarzinho, só para constar.
Em um mundo ideal, o Kollision teria se encarregado deste aqui para a gente, visto que ele é(era?) chegado em um joguinho cabuloso de nave. Entretanto, rumores dizem que ele constituiu família e vendeu quase toda a coleção (só ficou com os RPGs), dedicando seus dias atuais a trocar fralda, cultivar a barriga e tomar vinho Cantina da Serra sentado na varanda. Que coisa, não? Então, lá vamos nós com
Action Fighter, que poderia no mesmo mundo ideal acima ter sido um dos shmups mais notáveis do Master System, visto que é até relativamente bem intencionado, mas falha feio nesse intento na realidade... É quase um irmão espiritual de
Out Run Europa em gerar expectativas e não cumpri-las. Cozinhei este aqui para o o desafio já faz tempo, ataquei-o diversas vezes, mas só agora consegui terminar o danado.
Você aqui está no papel de um agente secreto ou coisa do tipo que anda por aí em sua moto atirando em malfeitores. Recolhendo alguns itens em forma de letras você transforma a motoca em um carro(!) e depois de mais duas letras em um avião(!!), tentando sobreviver até o fim do estágio para matar algum chefe no comando de tanques, helicópteros ou navios. Por mais que soe variado, é um tanto repetitivo; todas as cinco fases do jogo são praticamente idênticas, parecendo apenas que os mesmos cenários foram montados em uma sequência diferente da anterior, na segunda fase já dá para notar isso.
O jogo conta com um esquema à primeira vista interessante de marcar a "vida" do jogador. Temos um relógio em contagem regressiva e apenas perdemos alguns segundos em cada morte instantânea, com o jogo te fazendo surgir praticamente no mesmo ponto após uma tela de status/pontuação. Quando o relógio zera, no entanto, você passa a contar com um número limitado de vidas, se não me engano duas no começo com possibilidade de ganhar mais algumas no decorrer do jogo. Perdidas as mesmas, é
game over sem continue. Como você vai morrer MUITO (mas MUITO) em um primeiro momento, certamente vai querer jogar o cartucho na parede depois que o relógio acabar e você perder rapidamente as vidas do estoque. Isso sem contar com a praga da demorada tela azul de status a cada morte, uma das coisas mais desnecessárias da história (custava ter a pontuação e estágio na tela a todo tempo?) e que também aparece quando você pausa. Uma barra de energia teria dado um dinamismo indescritível ao jogo, até justificando a continuidade da jogatina - quando moleque, eu não me recordo de chegar à segunda fase por absoluta falta de paciência, preferindo ir jogar outra coisa.
O que desmotivou o jovem gordinho e também o que deve afastar a quase totalidade de quem tenta esse jogo é justamente o início do mesmo. Como disse anteriormente, mesmo com o esquema do contador regressivo, você morre MUITO até pegar o jeito da coisa. Você precisa maltratar o direcional para frente para conseguir correr, mas o preço de se ir rápido tem a ver com a moto ser desgraçadamente frágil... Bateu no meio-fio? Morreu. Colidiu com algum outro veículo? Quase certo de que foi jogado de lado, bateu no meio-fio e morreu. Não prestou atenção nas placas que surgem na velocidade da luz na parte de cima da tela, indicando curvas e junções? Morreu também. Não é nada atrativo esse início, sabe? Após a transformação em carro, a coisa melhora um pouco, sendo mais fácil jogar os demais veículos para fora da pista, mas o traçado da pista ainda vai te matar um bocado.
Além dos itens de letra que transformam aos poucos o veículo, temos nessa primeira etapa térrea alguns caminhões com o logo da Sega surgindo vez ou outra. No estilo
Battle Out Run, pode-se subir neles para ganhar melhorias. Primeiro o tiro fica mais forte, depois ganha-se um míssil alternativo que acerta uns malditos helicópteros que soltam bombas (e entram na categoria acima de coisas que mais te matam, aliás) e depois o jogador é agraciado com invencibilidade momentânea. Ainda assim, cuidado ao tentar entrar no caminhão, diversas vezes eu acabei me chocando com ele de lado e indo parar na maior nêmese do jogo - o meio-fio, claro. Ah, quando se está com o carro, apertando 1+2 você volta para forma de moto e vice-versa, mas a única utilidade que achei para isso é, além de poder usar o tal míssil para atirar no helicóptero, é assustar(!) o mesmo caso você não tenha a arma, ele acaba indo embora - e você possivelmente morrendo, visto que a transformação tira momentaneamente o seu controle.
Dá para se ter certa esperança que as partes aéreas sejam menos ofensivas ao jogador. Até são, mas elas também tem sua cota de problemas - e nem estou falando do fato das mesmas serem interrompidas por trechos nos quais é preciso voltar sem razão a ser carro para então decolar de novo, uma quebra chata de ritmo. Aqui a coisa flui melhor, temos novos
power-ups para melhorar velocidade e tiro, dá paras se entender o comportamento dos inimigos, mas a sequência morte-tela azul-morte-tela azul ainda incomoda, principalmente porque geralmente aqui já estamos no esquema das vidas limitadas. Outro agravante aqui é a perda do tiro melhorado nas mortes, como em
R-Type; alguns inimigos - uns mísseis enormes, principalmente - precisam de mais tiros que o normal e você vai tomar um tirinho ou outro pela distração com o caso. Mantendo-se o botão de tiro pressionado, a frequência de disparo é risível, a famosa "de vez em nunca". Daí, é preciso massacrar o botão para se ter alguma eficácia. Como o Kega Fusion não tem turbo (POR QUÊ, meu Deus, POR QUÊ?) eu senti uma falta danada do meu controlinho de seis botões, fosse em cartucho a experiência teria sido bem mais suportável.
Isso, é claro, falando do tiro normal, porque o outro grande problema está no tiro alternativo... Sabe aquela mecânica tão comum de se ter um tiro direto e outro que acerta alvos no chão, aqui indicado por uma mira? O alcance da bomba terrestre é risível, a frequência é demorada e para piorar é a arma que precisa ser usada para se matar os chefes das duas últimas fases, os mais cascudos de todos (os três primeiros são até tranquilos). Eu quase desisti de
Action Fighter após ter finalmente conseguido progredir com o jogo por conta desses caras, justamente pelo alcance precário das bombas. O quarto chefe são três tanques que só podem ser acertados quando se está na linha do tiro dos mesmos, então é um exercício de se ir para o cantinho da tela, esperar um atirar, ver se não tem outro atirando ao mesmo tempo, entrar na linha do tiro, atirar, sair correndo, ver se o tiro pegou e repetir a operação algumas vezes para cada um deles... Demoooooora, principalmente porque dos três derrotados ainda aparecem outros três iguais e é preciso fazer tudo de novo. Morreu no chefe? Volta-se um pouquinho e começa tuuuuudo de novo, do zero. Novamente, eu quase desisti aqui diversas vezes, larguei um monte de vezes o jogo nesse ponto e tentei novamente outro dia.
Eu estava torcendo para ser um caso como o de
Scramble Spirits, no qual o penúltimo chefe é pior do que o último, mas é claro que o jogo não ia me dar esse mole... O chefão derradeiro faz o anterior parecer uma diversão sadia. De saída, o mini-porta-aviões demora coisa de um minuto para chegar no meio da tela e começar a atacar, só a partir daí é possível acertá-lo. Da primeira vez em que acontece, você é morto de cara porque não está esperando o ataque teleguiado dele. Aí você volta, precisa esperar o minuto toooooodo de novo, e tenta entender o padrão de ataque dele, dois conjuntos de tiros teleguiados. Tranquilo, você entende como desvia, mas então percebe que só dá para fazer dano nele com a bomba, ou seja, quase colado no desgraçado. O tiro sai praticamente em cima de você, você nem tem como raciocinar para desviar. Piorando ainda mais a coisa, só um ponto pequeno (uma torre de controle) é suscetível ao seu ataque, ainda é preciso tentar mirar nela. Juntando as duas coisas - desviar sem parar e mirar - é meio que necessário ficar o tempo todo fazendo um "8" com a nave (dê adeus ao seu dedão) e rezando para de vez em quando um tiro pegar, é preciso dezenas deles para matar o chefe... Aliás, OS chefes, já que são TRÊS mini-porta-aviões idênticos, um atrás do outro e com o mesmo período de espera até começarem a atacar. E trate de acumular vidas durante todo o jogo, morre-se fácil demais por distração aqui. Neste cara aqui eu cheguei a largar o jogo uma penca de vezes e pensar seriamente em mandar pelo correio uns garrafões de 20 litros de Cantinão para o Kollision quebrar esse galho para a gente, sinceramente ainda não sei como não desisti e continuei tentando. Temos uma das batalhas mais tediosas da história do videogame, matar o Maneater de
Demon's Souls com centenas de flechas de madeira é divertido perto disto aqui, além de ter bem mais sentido.
Possivelmente nunca vou voltar a este jogo e recomendo o mesmo a todos. Vão jogar os dois
Power Strike,
Fantasy Zone ou até meu querido
SS no lugar, bem mais jogo. Ou vão dar uma volta em um bosque bonito, sei lá.
EDIT: esqueci de um detalhe, quando você pega um determinado números de itens de bandeirinhas (tipo as de
Xevious, lembra?) aparece do nada uma cara de gato miando no meio da tela. Não há um consenso na net sobre o que ela faz direito, se aumenta bônus, se atrapalha os inimigos ou coisa do tipo, mas é algo interessante e uma das poucas coisas realmente legais do jogo