Superman The Man of Steel
Desculpa, Kal, mas quem merecia esse beijo era o jogador que suportou essa bomba até aqui.
Se você já conversou meia hora comigo, existe uma grande possibilidade de saber que eu sou fascinado por histórias em quadrinhos, que são tanto meu hobby quanto ganha-pão. Mais provável ainda é saber a minha adoração pelo Super-Homem, não só o (primeiro e) maior super-herói quanto também uma figura importantíssima para a comunicação de massa. Não dá para conceber o mundo de hoje sem que o impacto daquele
S e de todos os conceitos por trás dele seja levado em consideração, tanto pelas possibilidades de histórias abertas e inspiradas pelo personagem nos últimos 79 anos como também pelo que ele representa. Entretanto, isso é assunto para várias meias-horas e quem quiser me ouvir falando mais a respeito é só sentar comigo em boteco qualquer dia desses - ou comprar meus livros
Entretanto, existe um campo espinhoso para o azulão e este são os videogames baseados nas histórias dele. Jogos baseados em franquias de heróis nos tempos idos, embora ainda ganhem de lavada no quesito qualidade dos inspirados pelo cinema, são geralmente uma loteria. Veja o Batman, por exemplo: apesar dos tropeços, temos um considerável número de bons títulos baseados no Morcego mesmo antes da consagração do mesmo nos
Arkham da geração passada. Já o Super não teve tanta sorte assim... Desde o incompreendido jogo do Atari, passando pelo estranho SD do Famicom, o regular
beat'em up do SNES e o universalmente odiado de Ni***ndo 64, não existe
aqueeeeeele jogo do personagem que dê gosto no fim das contas, que entre na maioria das listas dos celebrados, que seja assunto de discussões nostálgicas e tal.
Muito provavelmente, isso tem a ver com os próprios limites impostos ao personagem. Pensa comigo, o Kal-El é praticamente uma divindade: quase invencível, a criatura mais forte do planeta, muito rápido, voa, solta raios de calor pelos olhos, sopro gélido etc. Aí, das duas uma - ou você faz um jogo tipo
Dragon Ball Z ou
Bastard!! no qual todo mundo é poderoso pra cacete e muda a geografia da região quando cai na porrada ou então você reduz drasticamente o poder do protagonista para não ficar sem graça. Na minha humilde opinião, é aqui que mora o problema com o azulão, pois é justamente o que fazem com ele. Desde os tempos de
Justice League Task Force (conhecido como "aquele jogo que só o Corredor X gosta") e de forma muito mais interessante nos atuais
Injustice, acaba sendo uma muleta de roteiro para a coisa não ficar desproporcionada. Ainda assim, a sensação é que não sabem muito bem o que fazer com ele, o que parece ser o mote-chave deste
The Man of Steel.
O objetivo do jogo é tentar chegar ao próximo item que dá energia sem morrer. A capa diz alguma coisa sobre o Brainiac ter raptado a Lois Lane, mas isso nem importa tanto; o maior desafio do título é perder a menor quantidade de energia até poder recuperá-la e assim seguir adiante. Nos quadrinhos, o Super só pode ser realmente ferido por kriptonita ou magia, então tudo leva a crer que cada elemento do jogo é feito de kriptonita mágica. Sério mesmo, o herói perde energia demais por conta de QUALQUER COISA. Com alguns minutos de jogo, você percebe que o maior responsável por este dano não são os ataques dos inimigos (a maioria fica até bem paradinha e comportada até), mas sim o fato de você nunca conseguir deixar de encostar neles, o que tira mais energia do que levar um tiro ou coisa do tipo! Um dos poucos poderes nativos e restantes do Homem de Aço (mais sobre eles abaixo; se não tiver um
teaser desses não é um texto meu, correto?) é a velocidade, quase tão absurda quanto a do Flash no título homônimo. Como o chão é aparentemente feito de geleia e os controles são folgadões, parar o personagem antes que ele se choque com qualquer coisa é uma odisseia.
Sobre os controles: já começam errado por conta dos botões invertidos, algo que eu amo de paixão como todo mundo sabe. Além do Super se movimentar como se estivesse patinando, ele pode dar uns soquinhos mixurucas e sem alcance (são preciso VÁRIOS para matar qualquer coisa), pular e também voar. Meus caros, quando O PRÓPRIO MANUAL do jogo diz que "pode ser que você ache que voar é difícil e precise treinar antes", qual a possibilidade de ser um poder que vai te salvar de muitos apuros? Pois é, baixa assim. Além de não deixar que o Super-Homem caia em buracos (o que seria meio besta mesmo), você simplesmente pode pular e segurar o botão para que o mesmo saia planando por aí. Tenho certeza de que a primeira coisa que você vai tentar fazer é sair voando loucamente pela fase - eu tentei, acredite. Pena que sua alegria não dura dois segundos, visto que sempre tem um canhão contínuo de kriptonita ou algum inimigo voador para te tirar energia de forma tão abrupta quanto na sua corrida normal, então o jeito é ir na maciota, devagar, quase na base dos toquinhos no direcional e olhe lá. Para incentivar ir com calma no jogo, temos o fato de que você só tem uma vida (
Shadow of the Beast?), um continue e só consegue mais continues a cada 100.000 pontos.
Os demais poderes do Super vem de itens recolhidos. Além do símbolo vermelho que dá energia (os tais que eu considero os verdadeiros objetivos parciais de fase), temos um item azul que pode ter fornecer - aleatoriamente? - dois poderes, visão de calor e um super-soco. Este último é relativamente útil, principalmente para se matar de forma menos tediosa os chefes, sendo usado segurando o botão de soco. Já a visão merecia um troféu Darwin Awards... Ela em tese é ótima, acerta os inimigos de longe e deve tirar mais energia que os soquinhos normais, mas tem um detalhezinho: ela só funciona quando o Super pula ou está voando. Em ambas as situações, o controle do personagem é precário, fora que é quase impossível de se acertar qualquer coisa! A quase totalidade dos inimigos exige que você abaixe para acertá-los (outra coisa que eu detesto em qualquer jogo), logo qual a utilidade dos raios que só podem ser usados ao pular? Quando se voa a coisa consegue ser pior; em teoria, eu imagino que os programadores do jogo pensaram que a gente usaria o poder para acertar canhões, laser, inimigos voadores e tal à distância. Só que o comando do voo é tão impreciso que, até você se alinhar com o inimigo em questão para conseguir acertá-lo, você já levou um tiro do mesmo ou ele já se chocou contra você. A cereja do bolo: a duração dos dois poderes é limitada e bem curta
Então, temos um jogo com uma vida e um continue, inimigos difíceis de serem acertados, que exigem na maioria das vezes que você abaixe para atingi-los, uma alta probabilidade de se tomar dano por qualquer coisa e poderes limitados pelo tempo. O que isso nos diz? Basicamente, que é melhor você desviar de tudo o que puder e tentar chegar ao chefe de fase o mais rápido possível. O jogo é bem curto, com apenas cinco fases, e dá para terminá-lo em uns 15 ou 20 minutos. Certamente isso não vai acontecer, no entanto, porque imagino que quase todo mundo desligue o jogo após o segundo
game over e vá fazer algo mais interessante da vida, como também deve acontecer com
Asterix and the Great Rescue. A exemplo deste último, é o tipo de jogo que só insisti por conta do Desafio, senão... A exemplo dele também a energia não se renova entre as fases, super legal isso. A dificuldade padrão, aliás, é o Easy. Eu terminei o jogo no normal e a única diferença que notei é os chefes precisarem de mais uns poucos golpes para serem mortos. Fora isso, o jogo é idêntico e ruim de qualquer maneira. Eu já tinha tentando o mesmo antes e desistido. Morri várias vezes em todas as fases e levei dias para conseguir levar isto até o fim
Um breve
breakdown dos estágios, só para sentirem o drama da coisa. O Super começa nos telhados de Metrópolis, desviando de canhões e malfeitores. Lembra mais um
E-SWAT ou
Spider-Man do que tudo, por sinal. Depois de não morrer desviando de pessoas em jetpacks, uns cabras abaixados mandando granadas de kriptonita e canhões, você chega à segunda parte do estágio, que me faz lembrar do jogo do Aranha para o Atari (
tundurundundundun tundurundundundun...), no qual você precisa voar prédio acima de pessoas jogando... panelas(?) no herói. Lá em cima, você enfrenta um dos poucos vilões reconhecíveis do jogo, o Galhofeiro(!). A batalha contra ele é um reflexo de todos os outros chefes do jogo: ele solta um ataque, parando para fazê-lo, você vai lá e ataca o quando der (ou usa o super-soco, se o tiver), daí você foge antes dele se mexer, espera atacar de novo e repete. Tudo isso e tentando com muito esforço não se chocar contra o adversário ao correr para não perder aquele tantão de energia citado anteriormente. Lembrando que o chão parece deslizar e o alcance do soco é ridículo, boa sorte com isso.
A segunda fase se passa em uma base subterrânea na qual é necessário derrubar (leeeeentameeeeente...) algumas paredes para continuar. O lugar está repleto de pequenos robôs - um deles lembra o Metal Gear Mk. II de
Snatcher - e canhões cujo dom parece ser matar o Super em segundos. Novamente, corra como louco atrás dos itens de cura tentando não morrer. Duas mocinhas que lembram a protagonista de
Halloween do Atari (aliás, esse jogo me deixou com muita vontade de jogar Atari, toda hora lembro dele!) estão presas no meio do caminho, passando por elas você liberta as mesmas. No final, uma batalha contra Metallia(!!). Diz o manual que é uma mulher, mas em todos esses anos nessa indústria vital eu não me lembro de uma versão feminina do Metallo, então chuto que possa ser um erro de tradução. Mesma estratégia do Galhofeiro, com a diferença que ela/ele é mais espertinho.
A terceira fase...
Ela começa com o Super voando dentro de um metrô, desviando de bolas de fogo teleguiadas e pegando itens de energia. Por várias vezes tentei ir devagar aqui, já que é necessário desviar das bombas. Após muitos minutos de tédio e repetição, consultei um vídeo no YouTube (como o fiz diversas vezes, muito útil para entender essa porqueira) e percebi que, além de desviar das desgraças no caminho, você ainda precisa alcançara a porcaria do trem!
Segredinho que espero que nunca usem, já que não desejo para ninguém jogar esse treco: quando estiver com a energia cheia, vá para a parte de cima de tela e segura para a direita para acelerar, rapidinho você chega no trem. Aí, pior do que está fica... O teto do mesmo é baixo, não dá para pular sobre os adversários, canhões com tiros teleguiados ficam passeando no teto e o Senhor Mxyzptlk fica jogando bombas das janelas. Só coisa fina, deve ter sido aqui a maior quantidade de mortes das minhas tentativas. No final do trem, lá está Metallo/Metallia todo pimpão, fazendo os mesmos ataques da fase anterior, mas com a diferença de que as ameaças do trem continuam te atacando. Espera atacar, desvia dele, soca, desvia dos robôs/canhões/bombas, repete etc.
Quarta fase, cavernas. Lembra a base subterrânea mas mais chata graças a uns lasers bem pregos e muitos, mas muitos, robôs. O chefe é um monstro Assilem, "um personagem desagradável que atira kriptonita" segundo o manual. Nunca vi mais gordo e cheguei a procurar na net a respeito, sem sucesso algum. Até que saquei que é o nome "Melissa" ao contrário... Possivelmente, o responsável pela tradução mandou um recadinho nada discreto e delicado para alguma ex-namorada/esposa
Mesmo esquema para matar, o super-soco cai bem demais aqui.
Quinta e última fase, nave do Brainiac. A maior concentração de robôs por metro quadrado, mas mais do mesmo. O chefe final, o próprio dono do lugar, não foge muito dos anteriores, só é mais ofensivo por tentar de atropelar de vez em quando (até ele sabe que o dano por contato é mais do que tiros e bombas). O que realmente pega aqui é a praga dos teleportadores, talvez uma das ideias mais imbecis já colocadas em um videogame. Em dois pontos da fase, você derrota um inimigo e dá de cara com uma tela desligada. num beco sem saída. Daí, aparecem três mísseis girando ao redor da mesma - pense na arma do
Wood Man em
Mega Man 2 - e de repente pisca um dos Brainiacs mais feios que já vi nela por alguns segundos. E agora? Você não consegue permanecer dentro do círculo de mísseis sem tomar dano, então não pode esperar lá. Você precisa encostar na tela quando o Brainy aparecer, mas graças aos controles porcos e aos
slowdowns - tinha esquecido de falar deles - periga você bater em um dos mísseis e não conseguir passar, ou então tomar dano, demorar um segundo a mais para entrar no círculo e o inimigo já ter desaparecido. Ficar planando dentro é uma tarefa fácil. Eu consegui um par de vezes passar sem tomar dano, mas levei mais de um
game over ali por estar com a energia baixa - inclusive, na vez em que zerei, eu morri DEPOIS DE MATAR O BRAINIAC porque alguém teve a brilhante ideia de colocar um teleporte desse estilo após a derrota dele!
Sorte que ainda tinha um continue, senão tinha largado essa praga de lado.
É uma pena esse cara ser um jogo ruim. Ele até parece prometer quando você só o vê, os gráficos não comprometem (são bem ajustados ao Master, lembram
Shinobi e
Spider-Man, prováveis inspirações para ele) e a música é interessante, boa de ouvir e usa bem as possibilidades do console. Pena que com o tempo você acaba se distraindo dela porque está passando raiva com o jogo... Sugestão? No lugar deste, vá encarar o
Superman do Atari - que a exemplo dos sempre cruficicados
E.T. e
Raiders of the Lost Ark exige certo aprendizado e paciência para ser aproveitado como deve - até terminá-lo, de preferência com um guiazinho esperto do lado. Vai ser uma experiência muito mais enriquecedora do que jogar este desserviço aqui